Manuel Marques - Cabra de Coimbra (2006) *fraty*
Interprete : Manuel Marques
Album : Cabra de Coimbra
Ano : 2006
Género : Canção de Coimbra
Ficheiros : 13
Codificação : MP3
Velocidade de Bits : 320
Qualidade : Boa
Extras : Sim
01 - Cabra de Coimbra
02 - Academia
03 - Forgalhas do Hilário
04 - Sentimentos
05 - Fado à Zé do Pipo
06 - De caloiro a Capêlo
07 - Inicio de férias
08 - Cabrão
09 - Guitarra Plangente
10 - Lágrima
11 - Queima das fitas
12 - Ledo engano
13 - Quinta das Lágrimas
Já vos dou mais alguma informação para quem não conhece o Professor Manuel Marques,que neste CD de 2006,interpreta composições suas da Canção Coimbrã.
Dou vos as palavras de Rui Lopes e João Tomas do Amaral(o seu a seu dono).
Excelente CD do Professor Manuel Marques no Brasil, sobretudo o tema "Cabra de Coimbra" em que o Professor consegue mesmo "imitar" com a Guitarra a Cabra a tocar. Para esse disco, o Professor, para saber como era o toque da Cabra, solicitou mesmo à Dr. ª Isabel Terra que lhe enviasse uma gravação da Cabra a tocar, pelo que conseguiu ouvir a cabra a tocar através da já citada gravação e compôs o tema que é a 1 ª faixa do CD e que dá o nome ao CD.
Pelo que já ouvi nos CDs que o Professor me enviou por correio, verifico que de facto se trata de um grande mestre de Guitarra que, embora sendo Português (nasceu em Milheirós - Concelho da Maia), está no Brasil (S. Paulo) desde 1955, onde tem a sua escola de Guitarra.
Manuel Marques pertence a um raro grupamento de pessoas, não em extinção, mas cada vez menos presentes em nosso convívio cotidiano, talvez por pelo menos dois aspectos. O primeiro é o vertiginoso crescimento populacional que faz as pessoas ficarem significativamente diluídas numa massa – que pouco se interessa por cultura e tende a não refletir. O segundo, estreitamente vinculado ao primeiro, que é o interesse pela cultura e pela educação embasado em fortes princípios éticos e morais. Com essas características fortemente presentes em sua personalidade, é quase impossível se aproximar desta amável figura humana, de posturas sempre joviais, vigorosas, entusiasmadas e envolventes, de forma a não se apaixonar por suas múltiplas vertentes de atuação pessoal e profissional, bem como por sua amplitude e profundidade de cultura e de educação.
Manuel Marques,no melhor espírito Caraciano, agrega de forma simples o homem – o homem-comum e o homem-técnico –, de modo que essas duas dimensões convivem harmoniosamente. Neste raro espírito humano, ambas dimensões dialogam em perfeito equilíbrio, ou seja, o homem-comum – o cidadão consciente e referencial – e o homem-técnico – o virtuose instrumentista e o maestro – interagem de forma sensível e solidária. A constatação desta sintética descrição é comprovada por aqueles que o cercam – amigos, vizinhos, alunos e companheiros de trajetória profissional. Portanto, estamos diante de uma pessoa que construiu valores éticos e morais ao longo de sua trajetória pessoal e profissional, mas que os exercita em sua pratica cotidiana. Tal pensamento e prática são constatados pela convivência com os seus próximos – amigos e familiares.
Manuel Marques consolida de forma fundamentalmente pessoal algumas imagens de caráter particular – o admirador, o aluno, e o amigo. Como admirador, fixo-me em suas apresentações, principalmente na televisão, em programas dedicados à cultura musical portuguesa, como compositor de temas musicais de filmes e novelas – “António e Maria” e “As Pupilas do Senhor Reitor” –, e intérprete de discos. O aluno reconhece com gratidão os ensinamentos iniciais de música em um momento especialmente agitado – professor na Universidade e Mestrado –, o que, forçosamente, afastou-me desse convívio prazeroso, que era motivado pelo aprender a tocar o bandolim. Depois, reencontro-o por mãos amigas – Bonfim e José Coelho –, e recomponho o contato e as memórias desde a Vila Maria – Rua Araritaguaba e Rua Eugênio de Freitas – à Vila Guilherme – Rua Manoel de Almeida.
Manuel Marques,nesta estada luso-brasileira, especificamente na cidade de São Paulo, em companhia de seu filho Nélito, vários amigos e alunos, contou com a presença constante de Dona Ana, que sempre no melhor estilo do acolhimento português servia biscoito waffer com o tradicional vinho do Porto. Em Portugal, esta forma de acolhimento tem um nome muito especial – um porto de boas-vindas. Era neste clima de acolhimento em que se falava de música, de poesia, de literatura, de alimentação saudável, de regras de conduta e de convivência, entre vários assuntos que integram uma vida fundamentada em fortes princípios éticos e morais. Destaco, também, a sua bela caligrafia e a respectiva satisfação com que se expressava sobre esta arte, cujo registro consta em discos que guardo com suas dedicatórias autografadas – verdadeiras expressões de sua firmeza de caráter.
Manuel Marques,em sua trajetória musical, ultrapassou as fronteiras da música portuguesa, e em terras brasileiras passeou com a tranquilidade dos gênios pela música brasileira, principalmente pelo Movimento do Choro. Ressaltando que o choro segundo os próprios instrumentistas é de difícil interpretação. Mas, para este virtuoso instrumentista da guitarra portuguesa, o choro é trajetória natural, ou seja, um caminho sem dificuldades e conhecido nas suas minúcias. No âmbito do choro, é um dos poucos instrumentistas da guitarra portuguesa a interpretar e a gravar esse gênero. Em sua discografia, encontraremos algumas composições como o choro Brasileirinho de Waldir Azevedo e a valsa Feia de Jacob do Bandolim. Alguns amigos dizem que o exigente e rigoroso bandolinista teria dito que “Se Manuel Marques tocasse bandolim, então desistiria de tocá-lo.”.
Manuel Marques interpretou em suas apresentações, em seus discos, em seus concertos, fundamentalmente música com a qual tinha estreita relação de cumplicidade, por seu espírito rigoroso e exigente. O universo de seu repertório é integrado por autores de inquestionável qualidade, bem como por suas composições. No âmbito de suas composições, facilmente, constataremos a existência de um novo universo para deleite dos ouvintes admiradores de sua arte, bem como para um estudo mais aprofundado do especialista interessado em música de excelente qualidade. É importante ressaltarmos que suas composições envolvem desde a essencialmente instrumental às que abrangem a parte melódica e a letra. Assim, buscamos em Nicolau di Cusa a afirmação de que “No universo da cultura o centro está em toda parte.” para associarmos à ação de Manuel Marques.
Manuel Marques é uma extraordinária figura humana, certamente com suas virtudes e fragilidades, próprias da natureza humana, mas composto por uma multiplicidade de vertentes, às quais se impõe análise da crítica ao elogio. Porém, este multiverso de cultura indiscutivelmente apresenta um resultado embasado no reconhecimento e na gratidão dos que consigo compartilharam momentos pessoais ou profissionais. A cultura musical luso-brasileira recebeu uma enorme contribuição digna das grandes referências pelo exemplo de vida e dádiva de sua arte. Finalizando, expresso a minha reflexão de que a maior ou a melhor obra de um homem não é aquela que ele diz que fez, faz ou fará, mas certamente é a que está na alma daqueles que o cercam. Com sentimento de reconhecimento e gratidão nos encontramos para saudar a sua presença entre nós, agradecendo pela dádiva do Encontro.
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