Autor Tópico: [Livro] A Ilha do Dia Anterior - Umberto Eco (2010)  (Lida 949 vezes)

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[Livro] A Ilha do Dia Anterior - Umberto Eco (2010)
« em: 26 de Fevereiro de 2016, 01:23 »
A Ilha do Dia Anterior - Umberto Eco (2010)




:info:

Nome: A Ilha do Dia Anterior
Autor: Umberto Eco
Ano: 2010
Editor: Bestbolso
Tipo: Livro
Idioma: Português  (PT-BR)
Formatos: PDF + Epub
Páginas: 491
Tamanho: 2.49 MB
ISBN: 9788577991204


:nfo:

:sinopse:

'A Ilha do Dia Anterior' conta a história de um jovem piemontês da pequena nobreza de Monteferrato, que, durante uma missão secreta a serviço do cardeal Mazarino, tem seu navio Amarillis naufragado por uma forte tempestade nos mares do Sul. Roberto, depois de dias sobre uma tábua salvadora, esbarra no Daphne, um outro navio deserto, mas repleto de objetos antigos, metais, obras de arte, onde tem início uma lenta viagem de volta aos anos seiscentos da nova ciência, da Guerra dos Trinta Anos, de um cosmos em que a Terra não é mais o centro do universo.


:notasdicas:

Opinião:

«A Ilha do Dia Anterior» é um romance histórico, centrado na figura de Robert de la Grive, jovem fidalgo piemontês, que naufraga nos mares do Sul (Pacífico) em 1643, traçando uma trama em torno da busca do ponto fixo, o meridiano dos antípodas onde supostamente se encontram as ilhas de Salomão, conhecidas na Bíblia como fonte de grandes riquezas.

É um romance que explora uma larga diversidade de temáticas e de narrativas. O primeiro foco dá-se na história da iniciação de vida de Robert de la Grive, centrado na descrição do cerco de Casale, cidade fortificada defendida por franceses e cercada por espanhóis, onde vai tomar contacto e beber conhecimentos e experiência com Saint Savarin, suposto filósofo que apresenta tiradas e dissertações práticas muito inspiradas sobre a vida, a morte, a religião, a sabedoria, a família, a paixão, a melancolia, etc; com o padre Emanuel, de educação mais clássica e erudita, que trava grandes confrontos ideológicos com Saint Savarin; e Salazar, político esquivo que ensina a Robert a prudência e a arte da dissimulação como meio de singrar na sociedade. É também aqui que Robert tem o primeiro contacto com o amor, que passaria a viver como ideal inalcançável, sublinhado por Saint Savarin, que escrevia cartas de amor como ninguém e defendia que só uma pessoa que não esteja concretamente apaixonada por alguém é que consegue escrever as melhores cartas de amor.

É na sua estada posterior em Paris que Robert se embaraça naquilo que seria o seu destino final. Após a sua entrada na sociedade e o seu deslumbramento amoroso por Lillia, conhece o sábio Igby, cuja influência o vai deitar a perder e ver-se forçado a viajar em missão para os mares do sul, de forma a escapar a uma segura pena de morte.

Após o seu naufrágio, iremos encontrá-lo (desde o início do romance, uma vez que é o próprio Robert de la Grive que recorda o seu passado) noutro barco deserto que está ancorado numa ilha à beira do meridiano antípoda (a 180 graus de Greenwhich). Gaspar é o sábio (de formação religiosa) que misteriosamente se encontra sozinho neste barco sem tripulação, perdido para sempre, tornando-se ainda mais estranho por estar recheado de relógios e outros artefactos técnicos não muito comuns.
Com Gaspar são travadas fabulosas discussões, onde se resume todo o conhecimento da época, centrado numa visão Ptolomeica do mundo, e onde novos cientistas como Galileu são tratados como hereges. Gaspar consegue defender e conciliar todo o tipo de conhecimento científico com o religioso, mostrando uma erudição total de acordo com o espírito da época, culminando com argumentos imbatíveis para a explicação da existência de um dia antes como forma do aparecimento e desaparecimento das águas do dilúvio bíblico.

Ferrante é outro personagem, suposto irmão gémeo virtual de Roberto, só existindo na imaginação deste, e romanceado por este sob as mais diversas formas, mas sempre representando o mal ao ponto de ser usado como personagem que, empreendendo também uma viagem aos antípodas, encontra a oportunidade de, encontrando Judas sofrendo num dia sem fim desde a morte de Cristo, pode aproveitar essa oportunidade, para, através do dia antes, evitar a morte e redenção de toda a humanidade, permanecendo esta no pecado sem redenção para sempre.

Muitas outras e fabulosas divagações romanceadas mas cheias de sustentação histórica e factos bíblicos (e mitológicos) são feitas em torno de Robert e através de Robert, a partir do meio do romance até ao seu final. Numa luta de Robert pelo acesso á ilha onde, do outro lado, estaria representado o dia antes, Umberto Eco faz as maiores deambulações literárias temáticas, romanceadas, ou descritivas, adiando constantemente o possível ou impossível acesso a essa mesma ilha, resolvendo-se essa saga de uma forma idílica onde se mistura a realidade com a ficção. Aliás, tal fronteira é sempre muito ténue ao longo de grande parte deste romance, confundindo sabiamente o leitor e maravilhando-o com uma soberba imaginação enleada por um universo de factos e mitos históricos sem igual.

Umberto Eco revela um conhecimento imenso da História, além de uma capacidade de escrita romanesca com um detalhe tal que chega a roçar o tédio, se não se salvasse pela exactidão e interesse desse mesmo detalhe para um quadro perfeito de todos os episódios deste romance, além da variedade de vertentes utilizadas, desde o romance em si (as peripécias de Robert de la Grive e de Ferrante), os diálogos e discussões temáticas extremamente ricas, as dissertações históricas e científicas (de acordo com os conhecimentos da época), e o uso da História em si, que nos transporta com uma exactidão quase decalcada a acontecimentos passados há vários séculos atrás, coloridos por todos os costumes, comportamentos, e modos de pensar daquela época.

Resumindo, um romance extremamente completo e irrepreensível em termos de qualidade de escrita, que pode eventualmente pecar apenas pelo excesso de descrições e concertação de factos históricos, algo de interpretação subjectiva para cada leitor, conforme sinta maior ou menor empatia por esta faceta claramente identificadora de um bom romance histórico.


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