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soul09

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E o Fenômeno disse adeus...
« em: 19 de Fevereiro de 2011, 18:08 »
E o Fenômeno disse adeus...


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Pelé é um exemplo raro no futebol brasileiro (e, provavelmente, mundial) de um atleta que deixou o esporte no auge de sua forma física. Já Garrincha, outro dos muitos ídolos dos estádios, optou em ir muito além, já em decadência, jogando em times de quinta categoria para sobreviver. O atacante Ronaldo Luís Nazário de Lima, o Fenômeno, ficou entre os dois exemplos, ao decidir sair de campo, na segunda-feira passada, antes de uma despedida melancólica, que seria mais marcante do que sua performance defendendo a Seleção Brasileira e os melhores times do Brasil e do mundo.

O dia de sua despedida dos campos (14 de fevereiro de 2011) foi emblemático para a sua biografia, dividindo o passado e o futuro. Visivelmente emocionado, porque não poderia ser de outra forma, Ronaldo, tendo na retaguarda dois de seus quatro filhos, Alex e Ronald, tomou a decisão mais difícil dos seus 34 anos, proferida em entrevista coletiva na sala de imprensa do CT Joaquim Grava, no Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo. Na ocasião, Ronaldo sintetizou toda sua agonia. Não foi fácil pendurar as chuteiras após tantas glórias no esporte.

A emoção contaminou os jornalistas, testados para resistir a situações como essa. Durante os 45min da entrevista, o agora ex-jogador falou das suas muitas conquistas no futebol. Sua trajetória nos gramados confirma tamanha unanimidade: entre outros tantos prêmios individuais, Ronaldo foi eleito por três vezes (em 1996, 1997 e 2002) o melhor jogador do planeta. Além disso, ele é até hoje o maior artilheiro de todas as Copas do Mundo (com 15 gols ao todo). De igual forma, ele foi bicampeão mundial defendendo a Seleção Brasileira e contabiliza 450 gols em sua carreira futebolística.

Mas Ronaldo também relembrou muitas das suas dores, causadas por lesões, que quase anteciparam sua aposentadoria anos atrás. Sufocando o pranto, ele começou a entrevista relatando o que o atacante Washington sentira quando fez o mesmo comunicado, em 13 de janeiro. Naquela ocasião, o jogador do Fluminense levou suas filhas para o anúncio da despedida dos campos. O Fenômeno afirmou que se emocionou com a entrevista de Washington e resolveu levar seus filhos também, para lhe darem força, “mas o Alex não está deixando”, disse Ronaldo, rindo, para conter suas lágrimas.

Oscilando firmeza e emoção, Ronaldo revelou publicamente que havia cogitado se aposentar no dia seguinte à eliminação do Corinthians na pré-Libertadores, principalmente porque foi muito criticado pela torcida. Naquele momento, ele desabafou, dizendo que não “daria o gostinho” àqueles que o criticavam, dentro e fora do Corinthians, e também aos torcedores descontentes com ele. Da quarta-feira da semana anterior até a segunda-feira, quando anunciou sua despedida, ele chorou durante três dias, convulsivamente na maior parte, sem que nada o confortasse.

Outro momento de forte emoção na entrevista ocorreu quando ele revelou que sofre de hipotireoidismo, enfermi-dade que havia sido diagnosticada na Itália, em 2004, e é a responsável pelo seu acentuado aumento de peso, mas que foi um segredo guardado por todos estes anos. O hipo-tireoidismo é o mau funcionamento da glândula tireoide, localizada no pescoço e responsável pela produção de hormônios que regulam o funcionamento de todo o corpo. Durante todo este tempo, Ronaldo foi alvo de chacotas devido ao seu peso. Até mesmo o então presidente Lula cometeu a indiscrição de falar sobre o assunto com Carlos Alberto Parreira em 2006, época em que o treinador dirigia a Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Alemanha. Ao saber do comentário presidencial, na véspera da estreia do grupo na Copa, Ronaldo respondeu ao então presidente de uma forma que não é da sua natureza. Só depois ele e Lula voltaram a se entender, sem duelos verbais.

Ainda na entrevista, Ronaldo revelou com detalhes como tomou a decisão: “Esta semana, depois de mais uma lesão, eu refleti muito em casa e decidi que era o momento, que tinha dado o meu máximo. O máximo que nunca imaginei que poderia dar. E, a partir de quinta-feira [dia 10 de fevereiro], quando eu finalmente decidi parar, parecia que [eu] estava numa UTI em estado terminal. É como morrer pela primeira vez. É muito duro você abandonar algo que te faz tão feliz, pelo qual se doou tanto e tem tanto amor que poderia seguir [fazendo], porque psicologicamente quero muito... Mas tenho de assumir algumas derrotas e eu perdi para o meu corpo. E este é o momento... Estou até com saudade das concentrações.

Vou pegar a minha família, um dia desses, e levar para Itu” (risos).

Ronaldo continuou as revelações: “Eu sinto dores para subir uma escada e não tenho elevador dentro da minha casa. Todos da minha família me entenderam. Doei a minha vida ao futebol, fiz todos os sacrifícios mais duros e impensáveis. Não me arrependo de nada. Foi maravilhoso demais, lindo demais e também difícil demais!”. Quando ele descobriu que sofria de hipotireoidismo, Ronaldo ficou sabendo que, para se tratar da doença, teria de começar a usar hormônios, o que não é permitido no futebol. Com dignidade, ao ressaltar que ficava magoado quando pessoas o criticavam pelo excesso de peso, ele afirmou que muitos daqueles que estavam presentes à sua entrevista coletiva certamente estavam arrependidos por tê-lo envolvido em comentários mordazes. Mas Ronaldo ressaltou, no entanto, que não guardava mágoa de nenhum e que já se voltava para o futuro.

Ronaldo já tem sido assediado por todas as emissoras de televisão, interessadas em contratá-lo para ser comentarista de futebol (a Rede Globo já tinha avançado na conquista), mas disse que pretende desenvolver suas atividades empresariais com a sua agência (9Nine) e também com uma fundação que pretende lançar nos próximos dias, a “Criando Fenômenos”, colocando-se ainda à disposição do Corinthians como embaixador institucional, levando o clube mundo afora, além de ajudar a captar recursos.

Mais patente do que sua emoção foi o que ele sente pelo seu último clube, mas também o vínculo que surgiu, até pelo apoio que recebeu todo esse tempo: “O Corinthians sempre soube de tudo. A decisão de continuar jogando foi voltada para o meu coração e pelo amor ao futebol. Sempre quis jogar e banquei todo o sacrifício. Para uma pessoa normal, emagrecer é difícil. Para mim, era ainda mais, porque o hipotireoidismo desacelera o metabolismo, e é isso. Mas eu sempre quis jogar e segui adiante”.

O médico Joaquim Grava, do Corinthians, didaticamente explicou que a doença dele é igual ao diabetes. Por isso, Ronaldo tomava remédios que podiam ser prescritos, mas não os hormônios tireoidianos, “mas agora, com a aposentadoria, ele terá como se cuidar de forma eficiente”. O doutor Joaquim Grava acrescentou que, há mais ou menos um ano e meio, tomou a iniciativa de levá-lo a um endocrinologista, porque ele estava tendo dificuldades para perder peso, embora ele tivesse controlado a doença na época do Milan. “Usávamos remédios, e não havia necessidade de comunicar [o fato] à Fifa, por exemplo, porque ele não tomava hormônios. Nosso controle era frequente, de seis em seis meses, com exames de sangue”, ressaltou o médico.

A trajetória de Ronaldo foi rápida, ainda quando era um garoto tímido, que ouvia muito e falava pouco, ou quase nada, até os 17 anos, quando já era profissional no Cruzeiro, clube em que jogou após sua transferência do modesto São Cristóvão, do Rio de Janeiro. O início de um percurso que o levaria, em março de 1994, à glória futebolística, quando vestiu a camisa da Seleção Brasileira e foi campeão do mundo. A partir daí, continuou sendo convocado para os jogos da seleção até a Copa de 2006, tendo conquistado um dos muitos reconhecimentos internacionais em 1996, ao ser eleito pela primeira vez como o melhor jogador do mundo. Mas a sorte lhe reservou uma surpresa cruel em 1998, na decisão contra a França, quando teve uma convulsão e amargou uma derrota árdua diante do mundo.

Não foram fáceis, depois disso, a sua vida e a sua reputação de grande jogador, quando somou apenas incidentes nada fenomenais dentro de campo. Em abril de 2000, Ronaldo sofreu uma lesão muito grave no joelho, quando era estrela do Internazionale, e se recuperaria poucos meses antes da Copa de 2002, competição para a qual se dedicou integralmente, quando se desdobrou para demonstrar para o mundo inteiro que voltaria a ser um jogador fenomenal. Disposto a entrar em campo, aproveitou uma entrevista à imprensa mundial para dar um recado ao técnico Luiz Felipe Scolari (o Felipão) e aos caciques da CBF: “Na hora que for para valer, podem contar comigo”.

Dito e feito. Ronaldo jogou um futebol espetacular, fazendo oito gols em sete partidas. No final da Copa, ele foi elogiado, com direito a massagem no ego, ao acabar com a má vontade dos torcedores e até mesmo de setores da mídia que o tratavam, na época em que estava em baixa cotação, com o estigma de ser um “amarelão”. Pura maldade para quem estava desesperadamente lutando para voltar a jogar o futebol em alto nível, com um estilo que era uma característica sua, mantendo-se como um astro admirado no mundo inteiro, dando alegria aos fãs, até a segunda-feira passada.

Já no dia seguinte ao anúncio, Ronaldo era alvejado pelo endocrinologista Alfredo Halpem, chefe do grupo de obesidade e síndrome metabólica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Halpem usou o Twitter para contestar suas informações, de forma bem afirmativa: “Na entrevista coletiva, Ronaldo Fenômeno disse que descobriram hipotireoidismo nele e que não pode tomar hormônios de tireoide, porque é doping. Errado! Hormônios de tireoide não são doping. Além disso, ele disse que está obeso devido ao hipotireoidismo”. O médico foi até cruel no final: “Não duvido que o craque tenha problemas metabólicos que levam a ganho de peso e discordo da gozação a respeito, mas dizer que tudo é tireoide, não!”.

Não demorou muito tempo para o ex-fenomenal jogador brasileiro, conhecido no mundo inteiro, deixar de ser ídolo para passar a ser vidraça, vulnerável como um cidadão qualquer. Mas o hipotireoidismo de Ronaldo passou a ser polêmico antes mesmo que Halpem se manifestasse. O fisiologista paulistano Paulo Zogaib já havia afirmado com muita convicção, ainda na segunda-feira, que de qualquer jeito Ronaldo ficaria vulnerável, mesmo depois de ser tratado com hormônios. O seu argumento é que a maioria dos afetados consegue levar uma vida normal com a reposição, “mas para um atleta de alto rendimento a exigência é maior”, afirmou com ênfase, acrescentando em seguida: “Isso, somado ao histórico de lesões de Ronaldo, torna a situação muito desfavorável”.

O especialista Ricardo Nahas, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, se pronunciou da mesma forma, afirmando que a enfermidade em questão não foi a causa que levou o jogador a sair de campo. “A gente sabe, por experiência, que os atletas não param por um único motivo. Ronaldo já tinha problemas nos joelhos, já estava com uma certa idade”.

O tema suscitará ainda muitas controvérsias. Por isso, muito tempo será necessário até que se conclua a questão de um jeito ou de outro. Diante de todo esse debate cada vez mais acirrado, vale acrescentar que a tireoide é uma glândula que fica abaixo do pomo-de-adão, com um formato que faz lembrar uma borboleta. A sua função é produzir dois hormônios essenciais para os órgãos: o T3 (triiodotironina) e o T4 (tiroxina), que atuam em funções como o crescimento, o ciclo menstrual, o controle de peso, a fertilidade, o sono, o raciocínio, os batimentos cardíacos e até a eliminação de líquidos.

A doença é diagnosticada quando a glândula gera pouca quantidade de hormônios, fazendo a pessoa sentir cansaço, fraqueza, dor de cabeça, sangramento menstrual, prisão de ventre, além de apresentar a pele seca e pálida, entre outros sintomas.

E foi assim que, melancolicamente, um fenômeno disse adeus.

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Pirataria  é  crime , não  roube  barcosO pouco com Deus é muito, o muito sem Deus é nada...