Trovante - 84 (LP) (1984) *fraty*Interprete : Trovante
Album : 84
Ano : 1984
Género : Ligeira\Pop...
Ficheiros : 10
Codificação : MP3
Velocidade de Bits : 320
Qualidade : Boa
Extras : Sim
Lado A
01 - Xácara das Bruxas Dançando
02 - Procissão de Santa Bebiana
03 - Esplanada
04 - Rio Curioso
05 - Molinera
Lado B
01 - Travessa do Poço dos Negros
02 - Fim do Mar
03 - Sorriso
04 - Bailadeira
05 - Garraiada
Este é o 5º album dos Trovante.Nele podemos encontrar musicas marcantes como "Travessa do Poço dos Negros" ou "Xácara das Bruxas Dançando";em relação a esta ultima,dizer que o autor da letra,não foi nenhum dos membros dos Trovante,mas sim o poeta Carlos de Oliveira.
Já agora tomem lá o poema COMPLETO,que está dividido em 4 partes.
I
Era outrora um conde
que fez um país,
com sangue de moiro,
com laranjas de oiro,
como a sorte quis.
Há bruxas que dançam
quando a noite dança,
são unhas de nojo
são bicos de tojo,
no tambor da esperança.
Ventos sem destino
que dizeis às ramas?
Desgraça bramindo
é a nós que chamas.
No país que outrora
um conde teceu,
as laranjas de oiro
são bruxas de agoiro
e fúrias do céu.
Anda o sol de costas
e as bruxas dançando
e os ventos do norte
sobre nós espalhando
as tranças de morte.
As estrelas mortas
apagam-se aos molhos:
vem, lume perdido,
florir-nos nos olhos.
II
Ama, estás ouvindo
a história que vou contando?
Ó ama pátria dormindo
desde quando?
Desde tempos e memórias,
desde lágrimas e histórias,
desde raivas e glórias,
agora te estou chorando
e tu dormindo
até quando?
As bruxas andam lá fora
e eu chorando
versos do país de outrora.
Dançam bruxas a ganir
de mãos dadas com o vento.
Ama, acorda; sopra o lume;
e não me deixes dormir
na noite do pensamento.
III
Ó castelos moiros,
armas e tesoiros
quem vos escondeu?
Ó laranjas de oiro,
que ventos de agoiro
vos apodreceu?
Há choros, ganidos,
à luz da caverna
onde as bruxas moram,
onde as bruxas dançam
quando os mochos amam
e as pedras choram
Caravelas, caravelas
mortas sob as estrelas
como candeias sem luz
E os padres da inquisição
fazendo dos vossos mastros
os braços da nossa cruz
As bruxas dançam de roda
entre o visco dos morcegos,
dançam de roda raspando
as unhas podres de tojo
na noite morta do povo
como num tambor de rojo.
IV
E o tempo murchando
a luz de idos loiros.
Ama, até quando
estaremos chorando
os castelos moiros?
Lá vão naus da Índia,
lá se vão tesoiros.
E as bruxas dançando
e os ventos secando
as laranjas de oiro.
Ama até quando?
Na noite das bruxas
o lume no fim
e o vento ganindo.
Amas estás ouvindo?
O lume no fim
e os homens dispersos.
Ama, tens frio;
cinge-te a mim
e aquece-te ao lume
queimando os meus versos.
Carlos de Oliveira.