Autor Tópico: [CD] António Pinho Vargas - Solo II (2009) *fraty*  (Lida 452 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão a ver este tópico.

fraty

  • Reformado
  • *
  • Agradecimentos
  • -Dados: 8
  • -Recebidos: 10036
  • Mensagens: 5732
  • País: pt
  • Sexo: Masculino
  • nosce te ipsum
[CD] António Pinho Vargas - Solo II (2009) *fraty*
« em: 18 de Agosto de 2015, 15:05 »
António Pinho Vargas - Solo II (2009) *fraty*:guit:





:info:

Interprete : António Pinho Vargas
Album : Solo II
Ano : 2009
Género : Jazz\Instrumental
Ficheiros : 26
Codificação : MP3
Velocidade de Bits : 320
Qualidade : Boa
Extras : Sim



:tracklist:

CD 01

01 - Twins Peak
02 - Que Amor não me Engana I
03 - Veado Ferido
04 - Olhos Molhados
05 - Da Floresta
06 - In Between T & O
07 - Do Teatro
08 - Águas Matinais da Holanda
09 - Gente Estranha
10 - Poslúdio De Gente Estranha
11 - O Sentimento de Um Ocidental
12 - The Times,They are a Changing


CD 02

01 - Uma Já Antiga
02 - Franz
03 - Poslúdio de Franz
04 - A Incontornável Melancolia
05 - Jardim do Passeio Alegre
06 - Cantiga Prá Maria
07 - Apesar de Tudo a Calma
08 - Thelonious Skizo Sketch
09 - Quatro Mulheres
10 - Que Amor não me Engana II
11 - Ornette
12 - Poslúdio de Ornette
13 - Da Alma : Lento
14 - Da Alma : Rápido



:screenshots:

Clicar aqui para ver conteúdo escondido (Passar cursor para mostrar conteúdo)




:musica:

https://www.youtube.com/watch?v=dupLr9RZyB8&feature=youtu.be



:download:

 
:lu:


:notasdicas:

As palavras são de Manuel Jorge Veloso (o seu a seu dono).
Se quisermos referir-nos apenas a um único domínio da sua actividade musical, são hoje raríssimas as oportunidades de poder reflectir acerca da arte tão singular de António Pinho Vargas (APV) no que à prática e à criação do jazz se refere.
 O recente lançamento, com pouco menos de um ano a separá-los, de dois álbuns duplos gravados a solo pelo pianista  – e como tal intitulados –,  constituíndo como que uma meticulosa e profunda revisitação da sua obra jazzística, apresentam-se como uma boa ocasião para fazê-lo e, sobretudo, para sublinhar alguns aspectos absolutamente marcantes na sua personalidade musical, melhor dizendo, no desdobramento estritamente musical dessa personalidade.
(...)
 A conclusão provisária a que pude chegar, então, não foi divergente da conclusão mais definitiva que voltei a tirar, agora, da privilegiada primeira audição de uma cópia privada de Solo II, a saber:  parece-me claro que, independentemente de se tratar, aqui, de versões para piano solo e não para formações instrumentais de constituição diversa ou para duo instrumental com voz, a verdade é que António Pinho Vargas, enquanto compositor, decidiu de uma forma natural permanecer firme na sua atitude de não deixar os seus dois mundos composicionais embrenharem-se um no outro;  de contrariar possíveis contaminações da obra jazzística e de expressão tantas vezes popular, portuguesa, por persuasões ou tentações de tipo erudito, preferindo conservar-lhes o essencial da traça original e optando por uma revisitação o mais pura e enxuta possível dessa obra.
 
Provavelmente ao contrário do que poderá suceder na muito diferente situação de uma actuação em palco  – durante a qual a interacção com o próprio público é tantas vezes decisiva nas mudanças de estratégia (1) –  ao fazer aquela opção, APV foi ao ponto de limitar, de algum modo, ao peso essencial e adequado, a vertente da improvisação jazzística sobre o material de base;  e só raramente se deixou arrebatar por desenvolvimentos idiomáticos ou improvisativos à maneira de um Jarrett ou de um Mehldau, aqui circunscritos  (como já ensaiara num disco anterior, A Luz e a Escuridão)  à aposição de prelúdios ou poslúdios, regra geral singelos e parcimoniosos.Mas uma consequência extremamente feliz deste caminho escolhido por APV foi a capacidade de nos devolver a memória de um lirismo sem mácula que banha várias das suas peças e, ao mesmo tempo, deixar-nos mergulhar deliberadamente no mundo da consonância que melhor permite realçar aquele, como acontece simbolicamente com o acorde perfeito maior que encerra de forma paradigmática o segundo disco de Solo II.E sem que isto constitua qualquer contradição com o que atrás se escreveu, talvez que a prática erudita da música orquestral tenha afinal influído na expressividade sonora e tímbrica que APV tão bem sabe hoje extrair de um instrumento “orquestral” como nenhum outro  – o piano –  a um tempo puro e cristalino nas deambulações melódicas;  obssessivo e insistente nas notas pedal que lhes servem de sustento;  percussivo e ressonante nos graves;  incisivo, mordaz e sibilino nos agudos;  pastoso, volúvel e sensual nos médios;  mas sempre deixando lugar à imperfeição que todo o jazz desejavelmente deve ser, como o pianista parece querer sublinhar ao sub-intitular Imperfeições 1, 2, 3 e 4 os quatro CDs que compõem estes dois álbuns duplos.Foi assim que pude recordar, ao ouvi-los  – esperando agora redescobrir de uma outra forma em palco –,  a beleza evocativa de “canções sem palavras” como Brinquedos, Veado Ferido, Quatro Mulheres, Casa de Granito no Minho ou Cantiga para Amigos;  os profundos e sentidos “corais” de Da Alma, Funerais, Que amor não me engana ou a “tocata” de Alentejo, Alentejo;  o “perpetuum mobile” (!) de O Movimento Parado das Árvores;  a alegria radiosa de Vilas Morenas, Dança dos Pássaros ou Dinky Toys;  a emoção perturbadora de Lindo Ramo, Verde Escuro ou The times they are a-changing;  as modulações a tons afastados de Cantiga para Maria;  o modalismo ibérico de Olhos Molhados;  as harmonias paralelas de O Sentimento de um Ocidental ou Águas Matinais da Holanda;  a tensão latente de Apesar de tudo, a calma (!);  o Poslúdio para Franz  (fazendo lembrar-me Maria João!);  ou ainda a impetuosa articulação jazzística e a irreprimível liberdade de Ornette, Thelonius, June, In Between T & O e General Complex.