José Afonso - Menina dos olhos Tristes (EP) (1969) *fraty*Interprete : José Afonso
Musicos : Rui Pato
Album : Menina dos olhos Tristes (EP)
Ano : 1969
Género : Intervenção
Ficheiros : 4
Codificação : MP3
Velocidade de Bits : 320
Qualidade : Boa
Extras : Sim
Lado A
01 - Menina Dos Olhos Tristes
02 - Deus te salve rosa
Lado B
01 - Canta Camarada
02 - Lá vai Jeremias
Mais um rebuçado para os meus Amigos.
Já vos tinha presenteado com o single,agora dou-vos o EP.Ao Octávio Sérgio devo estas palavras (o seu a seu dono).
Canção musical de tipo estrófico, ilustrativa do Movimento da Balada, em compasso 6/8 e tom de Mi Menor, de melodia muito sentimental, como que a ilustrar o choro dos mortos regressados das frentes de combate em Angola, Guiné e Moçambique durante a Guerra Colonial (1961-1974). A 6ª estrofe (“O soldadinho já volta”) enforma mesmo de alguma morbidez na vocalização de José Afonso. O coro adquire uma coloração funérea.
José Afonso gravou esta canção pela primeira vez em 1969, com um notável arranjo e acompanhamento de Rui Pato na viola nylon: EP “Menina dos Olhos Tristes”, Porto, Orfeu, STAT-803, ano de 1969. Remasterização no CD “José Afonso. De Capa e Batina”, Lisboa, Movieplay JA 8000, ano de 1996, Faixa nº 9. O livreto transcreve o poema, mas não exactamente como José Afonso o canta. José Afonso segue uma dicção escorreita, apenas adulterando no 2º verso da 3ª quadra “Olhe” para “Ólhó”, proeza notável num cantor que raramente respeitava a traça original dos textos alheios.
Esta canção surge primeiramente fonografada por Adriano Correia de Oliveira, acompanhado na viola nylon por Rui Pato, em 1964. Adriano não respeita a sequência das estrofes, adultera a quintilha final e segue um trauteio diferente do adoptado por José Afonso. Altera a ordem das coplas, cantando a 3ª como se fosse a 2ª. Consultado sobre estas discrepâncias, Rui Pato sugere que a versão Adriano se encontra mais próxima da composição primitiva. Postas as coisas nestes termos, admitimos que José Afonso tenha corrigido e aperfeiçoado a sua composição com vista a uma versão definitiva que é a de 1969, tal qual a transcrevemos.
Quanto ao autor da letra, Reinaldo Ferreira, ou melhor, Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira, nasceu em Barcelona pelos idos de 20 de Março de 1922. Veio a falecer de cancro pulmonar em Lourenço Marques, Moçambique, em 30 de Junho de 1959. Era filho do famoso jornalista e romancista policial “Repórter X”. Radicou-se em Lourenço Marques (Maputo) em 1941, cidade onde terminou os estudos liceais. Trabalhou como funcionário público e animador de programas radiofónicos na Rádio Clube de Moçambique. Adoeceu em 1958 e após tentativa infrutífera de tratamente na África do Sul, faleceu em 1959. Era de sua autoria o delicioso e muito conservador texto “Uma casa portuguesa”, gravado em disco por Amália Rodrigues. Autor de poemas belíssimos, a obra de Ferreira, “Poemas”, foi editada em 1960 na cidade de Lourenço Marques, em 1962 na Portugália (com prefácio de José Régio) e em 1998 na Vega. Ignoramos em que data Ferreira compôs a sua linda e triste Menina, sendo de aceitar que tivesse por horizonte a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) mas nunca a Guerra Colonial que não chegou a conhecer. Também não sabemos quando e em que circunstâncias José Afonso acedeu ao poema. Pode ter conhecido uma versão em manuscrito ou de página de jornal nas suas idas a Moçambique em 1949 (Orfeon), 1956 (TAUC), 1958 (TAUC a Angola) e 1960 (Orfeon a Angola). O mais certo é que tenha adquirido a edição lisboeta de 1962, ligada ao nome de José Régio. A Guerra Colonial tinha rebentado no ano anterior em Luanda (04/02/1961) e estava na memória a Operação Dulcineia (assalto ao Santa Maria, 21/01/1961).