Autor Tópico: Carta de um pai Angolano..  (Lida 400 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão a ver este tópico.

emef44

  • Reformado
  • *
  • Agradecimentos
  • -Dados: 0
  • -Recebidos: 315
  • Mensagens: 1019
  • País: pt
  • Sexo: Masculino
  • A vida é muito curta para ser pequena
Carta de um pai Angolano..
« em: 27 de Outubro de 2011, 22:42 »

Carta de um pai Angolano:


Querido filho:
Escrevo-te esta linha para que saibas que o pai está vivo. Vou escrever bem devagar, pois sei que não consegues ler depressa.


Caso estejas sem tempo de escrever ao pai, manda uma carta dizendo que quando estiveres mais tranquilo vais mandar notícias. Se tu viesses hoje aqui em casa não irias reconhecer mais nada, porque mudamos de casa.

Temos agora uma máquina de lavar roupa. Mas não trabalha muito bem. Na semana passada tua mãe pôs lá 14 camisas, apertou o botão e nunca mais as vimos. Vai ver que esta marca Hydra não é das melhores...

Tua irmã Maria está grávida. Mas ainda não sabemos se vai ser menino ou menina. Portanto, não podemos te dizer se tu vais ser tio ou tia...

Teu tio arranjou um bom emprego. Tem 12.300 homens abaixo dele. É o responsável pelo corte da relva do cemitério.

Quem anda sumido é teu primo Venâncio, que morreu no ano passado.

Lembra-te do teu tio Joaquim? Então, afogou-se no mês passado num depósito de vinho. Oito compadres dele tentaram salvá-lo, mas o tio lutou bravamente contra eles. O corpo foi cremado há duas semanas. Levaram oito dias para apagar o incêndio.

Teu irmão João continua o mesmo de sempre. A semana passada fechou o carro com as chaves dentro. Perdeu um tempão indo até a casa pegar a cópia da chave, para poder tirar-nos todos de dentro do automóvel. Estava um calor de rachar.

Esta carta te mando através do Gabriel, que vai amanhã para aí. A propósito, será que podes pegá-lo no aeroporto?

Lembrei de uma coisa importante. Terás um problema para falar com o pai, caso decidas escrever-me. Não sei o endereço desta casa nova. A última família que morou aqui, antes de nós, também era angolana e levou a placa da rua e o número da casa para não precisar mudar de endereço.

Se encontrares a Teresa, dê-lhe um alô da minha parte. Caso não a encontres, não precisas dizer nada.

Adeus.
Teu pai que te ama.
Manuel da Alcova
P.S.: Ia mandar-te 50.000.00 Kz, mas fica para outra vez. Já fechei o envelope.